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Deficiência auditiva no Brasil segundo o IBGE

Uma análise dos dados do IBGE sobre deficiência auditiva no Brasil

 

Quando se fala em deficiência auditiva, muitas pessoas logo imaginam uma pessoa idosa falando “hã?” Na verdade, além disso ser um brutal preconceito, também indica falta de informação. Nesse artigo, irei demonstrar que a perda auditiva atinge pessoas de diversas faixas etárias e tem avançado, de forma significativa, sobre os mais jovens. Para essa análise, irei fazer uso dos dados dos Censos Demográficos realizados a cada 10 anos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o IBGE.
O IBGE realiza, desde o ano 2000, um levantamento da população com alguma dificuldade auditiva. São informações que estão a disposição de qualquer pessoa, no site do Instituto.
Nessas operações censitárias, que são realizadas em todos os domicílios do país, os entrevistadores (recenseadores) fazem diversas perguntas, sobre os mais variados temas. No caso específico da deficiência auditiva, perguntaram se, no domicílio, havia algum morador que tinha alguma dificuldade em ouvir.
As alternativas de respostas, para essa pergunta, eram:
a) nenhuma dificuldade
b) alguma dificuldade
c) grande dificuldade
d) não consegue de modo algum
No Censo de 2000, aproximadamente 3,37% da população do país relatou apresentar algum tipo de dificuldade auditiva, enquanto que, em 2010, esse percentual evoluiu para 5,19% dos habitantes.
Em números absolutos, em 2000 havia 5.735.098 pessoas com algum tipo de limitação na audição e, em 2010, esse total saltou para 9.917.318.
Mais interessante ainda do que olharmos para os totais absolutos ou relativos, é analisarmos as faixas etárias onde estão essas pessoas que informaram sofrer com suas limitações auditivas.
Para fins puramente didáticos, separei essa população em dois grupos:
As pessoas com menos de 50 anos poderiam ser enquadradas como um público bem misto, abrangendo desde os bebês até pessoas da meia idade, mas que tem em comum, uma intimidade maior em relação ao uso dos recursos tecnológicos atuais, como o uso de smartphones, aplicativos variados e sistemas de comunicação.
Já os do segundo grupo, mais homogêneo, além de abranger parte das pessoas de meia idade, agrupa os idosos, tradicionalmente mais afastados do uso de tecnologias, embora seja um público que cada vez mais faz uso desses recursos, devido ao avanço da expectativa de vida.
De acordo com os dados dos Censos 2000, a perda auditiva estaria assim distribuida entre esses dois grupos:
Menos de 50 anos – 2.294.814 pessoas, ou 40% do total
Mais de 50 anos – 3.440.184 pessoas, ou 60% do total de pessoas com algum grau de deficiência auditiva.
Vamos ver as informações do censo 2010?
Menos de 50 anos – 3.963.719 pessoas, ou 38% do total
Mais de 50 anos – 6.023.529 pessoas, ou 62% do total que se declararam com algum tipo de perda auditiva.
Para ilustrar, montei esse gráfico:
Espere aí, mais de 40% da população com alguma dificuldade auditiva no Brasil tinha MENOS de 50 anos?
E você achando que só o vovô tinha problema de audição …
Alguém pode argumentar: bom, pelo menos, em 10 anos, a distribuição sobre as faixas etárias ficou estável, sendo as pessoas com mais de 50 anos a maioria ainda. Sim, ainda. Irei demonstrar que há uma tendência de crescimento acelerado de deficientes auditivos com MENOS de 50 anos, mesmo que o tamanho dessa população mais jovem venha caindo desde a década de 1940.
Você provavelmente já ouviu aquele lance de pirâmide etária. E já ouviu também que a base dessa pirâmide (pessoas mais jovens) têm diminuído a cada ano, enquanto que o seu pico (pessoas mais idosas), só alarga. Ou seja, já está complicado chamar isso de pirâmide. A imagem abaixo, ilustra bem isso.
São dados da população brasileira desde a década de 1940, além de uma projeção para 2060. Os créditos são do IBGE:
Veja que a participação das pessoas com MENOS de 50 anos no total da população brasileira CAIU de 85% em 2000 para 79% em 2010, conforme essa tabela abaixo:
Mas o que chama atenção é que, quando olhamos para o número de pessoas que declararam ter alguma tipo de deficiência auditiva, o percentual, ao invés de cair, sobe de 1,3% para 1,9% em relação ao total de habitantes.
Elaborei uma tabela para ilustrar isso também:
Pergunta de um milhão: porque o número de pessoas mais jovens com alguma deficiência auditiva está crescendo, mesmo o número de jovens, no total da população, apresentando queda? Aguarde os próximos capítulos…
Em tempo: o IBGE realiza o Censo demográfico a cada 10 anos desde 1940. Excepcionalmente, em 2020 não foi realizado devido a pandemia de COVID-19. O próximo será realizado em 2022, quando teremos novas informações para comparar com os levantamentos anteriores.
Fontes:
1 – Dados Censo 2000
2 – Dados Censo 2010
Sérgio Ricardo é Técnico em Informações Estatísticas do IBGE desde 2006.
É idealizador do portal Ouvindo a Vida Adoidado.